O Expresso da História: uma pipoca curitibana 🍿

Pra começar bem o ano, vamos de mais uma coluna O Expresso da História, escrita pelo nosso parceiro Diego Antonelli – que hoje fala de uma presença carimbada nos terminais de ônibus e nas banquinhas da cidade: a Pipoteca. Uma história que começa… nos embalos de sábado à noite:

🕺 A discoteca reinava no Brasil de 1978, que não perdia um capítulo da novela Dancing Days, da Rede Globo. Ciente do sucesso das danceterias, o catarinense Sebastião Anastácio dos Santos decidiu: a empresa que ele estava por criar homenagearia, de alguma forma, a onda das discotecas. Dito e feito: a partir da estranha combinação de “pipoca” com “discoteca”, nasceu a Pipoteca.

Recomeço: Aos 42 anos, com uma vida dedicada ao ramo da agricultura, torrefação de café e produção de sabão, Sebastião resolveu vender tudo na cidade catarinense de Pouso Redondo e recomeçar sua vida profissional em Curitiba. Chegou à capital paranaense em 31 de julho de 1978.

🏭 Pouco tempo depois, adquiriu uma antiga fábrica de pipoca na Vila Fanny, onde a empresa está até hoje.

  • No começo, a fábrica era também a sua casa, da esposa e dos seis filhos. Todo mundo contribuía com seu quinhão para o sucesso da empresa. 

Em Curitiba, é difícil quem não tenha apreciado a famosa pipoca doce embalada em um pacote rosa meio transparente. Foi com esse sabor que tudo começou. “Colocamos o grão de canjica numa espécie de canhão e ele se transformou nessa guloseima que marca gerações”, segundo a descrição da própria empresa.

Hoje, são mais de 50 tipos de guloseimas – doces e salgadas – produzidas pela Pipoteca, que continua sendo administrada pela família Santos. (Tribuna do Paraná) 

Curiosidades:

  • A primeira embalagem de Pipoteca trazia estampados os atores John Travolta e Olivia Newton John, reproduzindo uma cena do filme Grease.
  • Depois, a empresa chegou a ter como mascotes o Mickey e a Minnie. Foram alertados que corriam risco de serem processados por violação dos direitos autorais. Hoje, a Pipoteca tem seus próprios mascotes.

O Expresso da História: das bicicletas aos eletrodomésticos 🚴🏼

Vamos a mais uma viagem pela história de Curitiba com o nosso Diego Antonelli, que hoje fala de uma indústria curitibana famosa pelos eletrodomésticos, mas que começou mesmo com bicicletas: a Prosdócimo.

🚋 Nas primeiras décadas do século 20, as ruas de Curitiba eram dominadas por bondes, cavalos e carroças. Mas foi o mercado crescente das bicicletas que chamou a atenção de João Prosdócimo. 

🚲 Em 1929, nasceu a João Prosdócimo & Filhos – uma oficina de bicicletas, armas de fogo e de máquinas de costura, além de oficina mecânica, com capital financeiro de 30 contos de réis. Ali se vendia uma variedade de bicicletas e motos. A cereja do bolo, porém, eram os itens de marca própria: as Bicycletas Prosdócimo.

  • Em 1934, a loja foi transferida para a Praça Tiradentes, onde permaneceu por décadas como a matriz das Lojas Prosdócimo, que se tornou uma completa loja de departamentos. No auge, o estabelecimento ocupava sete pavimentos, sendo cinco de lojas e dois para escritórios e setor administrativo. (Fecomércio)


Surgem os eletrodomésticos: em paralelo ao sucesso da Prosdócimo, uma dupla de empreendedores começava uma história que se cruzaria com a empresa de bicicletas. Em 1949, período de pós-guerra, a importação e a produção interna de refrigeradores não conseguiam atender à demanda do mercado nacional.

  • Foi quando Kurt Emilio David Berhend Lysis e José Isfer criaram a Refrigeração Paraná (Refripar), em Curitiba.


🧊 Em 1954, a Refripar foi adquirida pelos Prosdócimo, que passaram a utilizar o nome da família como marca dos refrigeradores. Em 1961, a empresa lançou o primeiro freezer horizontal no Brasil e, em 1963, já fabricava mil geladeiras por mês! Aos poucos, a marca se tornou referência, e chegou a ser a segunda maior fabricante brasileira da chamada “linha branca” de eletrodomésticos. (UFPR, dissertação de Sandra de Brito da Silva)

Àquela época, a Prosdócimo ainda era uma empresa familiar. Os irmãos Pedro e João Antônio dividiam o comando das empresas: Pedro era presidente no comércio, e João Antônio, na indústria. 


O fim: a crise econômica dos anos 1980 colocou um ponto final na trajetória do braço comercial do grupo. Em 1984, a cadeia de 23 lojas entrou em recuperação judicial e foi vendida para o grupo Arapuã.

Já a Refripar ficou no comando da família Prosdócimo até 1996, quando foi comprada pela sueca Electrolux. Em 1997, a marca “Prosdócimo” deixou de ser utilizada em definitivo.

🏙️ Uma curiosidade: sede das Lojas Prosdócimo, o edifício João Prosdócimo foi construído em 1947 na praça Tiradentes. Em 1958, anunciou com pompa que inaugurava a primeira escada rolante de Curitiba. “O que Nova Iorque, Rio e São Paulo têm, agora para você também!” (Memória Urbana)

O Expresso da História: um refrigerante pra chamar de nosso 🥤

Hoje, a tradicional coluna do nosso colega Diego Antonelli sobre marcas icônicas de Curitiba conta as origens de uma fábrica de bebidas aqui da região metropolitana, cujas bebidas caíram no gosto do paranaense: a Cini. Fala aí, Diego:

A Cini se tornou um símbolo paranaense. O refrigerante Gengibirra, produzido a partir do gengibre, por exemplo, é um dos maiores marcos da fábrica. É uma bebida tradicional em grande parte do Paraná, produzida da mesma forma há mais de 80 anos

🚢 Toda essa história começou do outro lado do Atlântico: Ezígio Cini, o fundador da empresa, é natural da região do Vêneto, na Itália. Em 1890, ele migrou ao Brasil e foi morar na Colônia Cecília, a famosa experiência anarquista instalada em Palmeira, na região dos Campos Gerais. Foi lá que Cini conheceu Aldina Benedetti, com quem casou e teve filhos.

  • Cini, aliás, era considerado um intelectual que defendia seus ideais: fundou o jornal ‘Il Diritto Libertário’, em que tratava dos direitos dos trabalhadores, e chegou a ser detido na época. 

🌱 Foi ainda na Colônia Cecília que surgiu a famosa gengibirra, produzida em casa por Cini e sua família, para beber aos finais de semana. A receita é mantida desde então, e foi repassada de geração em geração. 

🍻 A semente da fábrica Cini começou a brotar em 1904, quando Ezígio Cini foi morar em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, e iniciou uma fábrica de bebidas em sociedade com Carlos Chelli. A empresa ganhou o nome de Cervejaria Esperança, e produzia água com gás e duas cervejas – uma clara e outra escura.

Na década de 1920, Cini morreu. Sua esposa e o filho Hugo tocaram os negócios, assumindo a sociedade por completo e rebatizando a empresa de “Hugo Cini e Cia”. Foi Hugo quem levou a fórmula do refrigerante Gengibirra para a fábrica. 

🚚 A sede da empresa já passou por Curitiba, Pinhais e, enfim, voltou a São José dos Pinhais, onde ocupa atualmente uma área de 11 mil metros quadrados. A gengibirra é exportada e consumida em diversos países, assim como outros refrigerantes da marca.

Curiosidades:

Expresso da História: Original de Curitiba 🍺

Hoje publicamos mais uma edição do Expresso da História, coluna do nosso parceiro Diego Antonelli, que conta a história de algumas das marcas e empresas mais icônicas da cidade.  Desta vez, o tema é uma famosa cerveja, que tem raízes em Curitiba. Fala aí, Diego:

Pouca gente sabe, mas foi um imigrante alemão radicado em terras paranaenses, sócio de uma pequena cervejaria curitibana, que deu origem à famosa cerveja Original.

🇩🇪 Henrique Thielen chegou ao Brasil em meados do século XIX, com apenas 9 anos. Morou em Morretes, Rio Negro, Curitiba e, por fim, em Ponta Grossa, e chegou a participar do Cerco da Lapa, segundo a pesquisadora Carmencita Ditzel. (Repositório da UFSC)

Foi em 1894 que a história de Thielen e da cerveja Original teve início, quando ele passou a trabalhar na pequena Cervejaria Grossel
, de Curitiba. Naquele ano, a empresa abriu uma filial em Ponta Grossa, onde Thielen foi trabalhar. Não demorou muito para ele se tornar sócio e, mais tarde, proprietário da empresa – por volta de 1896.

🏭 Amante da boa cerveja, Thielen mudou o nome da empresa para Companhia Cervejaria Adriática, e investiu na modernização da fábrica e dos processos de produção. A companhia começou a utilizar equipamentos da Alemanha e, em 1928, passou a produzir uma nova cerveja e que ganharia fama que persiste até hoje: a cerveja Original tipo Pilsen

🌱 O rótulo da Original já avisava: “Para amantes de cerveja fortemente dosada com lúpulo”. Em pouco tempo, a bebida caiu no gosto popular. Produzida em Ponta Grossa, a cerveja começou a ser distribuída para o Rio de Janeiro, São Paulo e outras regiões do Brasil. A bebida tinha um sabor inigualável, segundo registros das fontes históricas. 

💵 Em 1945, Thielen vendeu a Cervejaria Adriática para a Cia. Antarctica Paulista, que dentre várias marcas preservou somente a Original. A cerveja ganhou o nome que tem até hoje: Antarctica Original. Atualmente, a Original faz parte do portfólio da Ambev.


Curiosidades:

Expresso da História: uma potência varejista

Abrimos espaço novamente para nosso colaborador Diego Antonelli, que apresenta a história de algumas das marcas e empresas mais icônicas de Curitiba. Nesta 7a. edição do Expresso da História, ele fala de uma potência varejista nascida na rua Barão do Rio Branco, e que marcou época em Curitiba e no Brasil: as Lojas HM

🧉 Gaúcho de Rio Pardo, Hermes Macedo desembarcou em Curitiba em 1932. Aos 18 anos, ele deu o pontapé inicial no que seria uma das maiores redes de varejo que já existiu no Brasil. 

Os primórdios: a toda-poderosa HM começou sua história em 1932, com a fundação da Agência Macedo, especializada no comércio de peças para automóveis e caminhões. A sociedade de Hermes Macedo e de seu irmão Astrogildo publicava anúncios nos jornais de Curitiba e região, para comprar automóveis e caminhões usados. 

🚛 “Os veículos adquiridos eram desmontados, e suas peças, revendidas em um mercado que tinha dificuldades em importar itens de reposição para uma frota crescente”, informa pesquisa de Itanel Quadros, da UFPR.

💰 O empreendimento deu certo. Em 1944, os irmãos adquiriram um amplo imóvel na rua Barão do Rio Branco, antes ocupado pelas Indústrias Matarazzo. Ali funcionou por muitos anos a matriz das lojas Hermes Macedo — que passaram a comercializar artigos variados, como louças, liquidificadores, rádios e máquinas de lavar roupa e de costura. 

O sucesso foi nacional. Na década de 1980, a HM chegou a ser a segunda maior rede varejista do Brasil, segundo o ranking Maiores e Melhores, da revista Exame. Eram quase 3 mil funcionários, em 285 lojas nas regiões Sul e Sudeste. Em São Paulo, a empresa ocupava um prédio de dez andares. O grupo também investiu em empresas de crédito, propaganda, concessionárias e centros automotivos.

🎅 Para muitos curitibanos, uma das lembranças mais marcantes das Lojas HM era a decoração de Natal, um verdadeiro evento de fim de ano. O hábito se repetia em outras lojas da HM pelo país. (Gazeta do Povo)  

O fim: a decadência da Hermes Macedo S.A. teve início na década de 1990, sob uma conjuntura econômica desfavorável, agravada com a edição do Plano Collor e a disputa familiar pelo comando do grupo — o fundador faleceu em 1993. Em 1995, a HM fez um acordo com as Lojas Colombo, cedendo seu estoque de mercadorias, instalações e funcionários. A falência definitiva foi decretada em 1997. (Folha de Londrina)

Confira as outras colunas do Expresso da História:

O Expresso da História: Últimas notas

Trazemos hoje mais uma edição da coluna O Expresso da História, em que o nosso parceiro Diego Antonelli mostra as raízes de uma tradicional fábrica curitibana que tem origens alemãs e, quem diria, argentinas!… Conta lá, Diego:

🎹 Os acordes dos pianos ressoaram pela última vez em 1997, no cruzamento entre as ruas Mauá e Campos Sales, no bairro Alto da Glória. A tradicional fábrica de pianos Essenfelder se despediu naquele ano do povo paranaense e virou parte da história.

A antiga fábrica da Essenfelder em Curitiba, localizada no Alto da Glória, em imagem do início do século XX (colorida digitalmente). Crédito: Divulgação

🇩🇪 🇦🇷 A saga da centenária fábrica começa no velho continente, quando o alemão Florian Essenfelder aprendeu o ofício da fabricação de pianos na C. Bechstein, em Berlim, famosa por produzir um dos melhores pianos do mundo. Ali, ele descobriu sua vocação. 

  • Em 1889, Florian embarcou com esposa e dois filhos com destino a Buenos Aires, onde abriria uma oficina de pianos. Foi lá, portanto, que nasceu a primeira fábrica de pianos com a marca F. Essenfelder & Cia.

🇧🇷 Anos depois, em 1902, já viúvo e com seis filhos, Florian migrou para o Brasil, se estabelecendo primeiro em Pelotas, no Rio Grande do Sul, e, na sequência, em Curitiba, onde chegou em 1909. A capital paranaense foi escolhida na época pela abundância de matéria-prima para a fabricação de seus pianos — leia-se, madeira de alta qualidade, como mogno, imbuia e cerejeira. (Gazeta do Povo)

Em seu auge, a fábrica conseguia produzir entre 120 a 130 pianos por mês e contou com mais de 300 funcionários. A Essenfelder ganhou prêmios nacionais e internacionais pela qualidade do produto — como fazia questão de destacar a fachada da fábrica: “Pianos Essenfelder, premiados em exposições internacionais”. Gerações e mais gerações de músicos se formaram nas teclas de um Essenfelder.

📉 Nos anos 1990, a crise começou a baquear a empresa. As políticas econômicas do governo Collor facilitaram a importação de produtos, e fizeram com que pianos mais baratos chegassem ao país. Com isso, a Essenfelder perdeu a competitividade e o espaço no mercado, vindo a fechar a fábrica em 1997.

Curiosidades:

  • Pouca gente sabe, mas a empresa Essenfelder ainda existe, reinventada: agora, ela produz pianos acústicos e digitais, em parceria com uma fábrica na China!
  • O local onde funcionava a antiga fábrica abriga hoje uma das sedes do Tribunal de Justiça do Paraná — batizado de Edifício Essenfelder.
  • Quem quiser saber mais sobre a trajetória de Florian Essenfelder pode conferir esta dissertação de mestrado de João Baptista Penna de Carvalho Neto, que associa o sucesso do empresário à transformação da economia paranaense na época, de agro-exportadora para industrial.

O Expresso da História: uma fábrica de fitas 💝

Dando uma pausa nas notícias sobre a pandemia, vamos à quinta edição da coluna O Expresso da História, escrita pelo nosso parceiro Diego Antonelli, que fala sobre as indústrias e empresas que marcaram época em Curitiba.

A história de hoje é da Fábrica de Fitas Venske — cujas antigas instalações viraram um ponto cultural e de encontro na nossa capital, ali no Alto da XV. Conta aí, Diego:

Crédito: Museu Paranaense

🇩🇪 A história da Fábrica de Fitas Venske, fundada em 1907, começa com a chegada do alemão Gustavo Venske ao Brasil, que se mudou para o país na segunda metade do século XIX — mais um entre milhares de alemães que fizeram parte daquela onda imigratória. Venske chegou a Curitiba em 1889, onde se casou com Anna Müller (cuja família era proprietária da tradicional Metalúrgica Müller, onde hoje fica o shopping de mesmo nome) e fundou uma loja de armarinhos.

🎗️ Em 1907, farejando uma oportunidade no ramo de tecidos e confecções, Venske abriu uma pequena manufatura de fitas, com três teares. A produção era inicialmente destinada à sua própria loja de armarinhos, que ficava no Largo da Ordem, numa sociedade entre ele e seu cunhado, Oscar Charles Müller.

A indústria, porém, prosperou. Em 1917, já eram 64 teares na fábrica, que se mudou para uma sede própria no centro de Curitiba.

🎩 As fitas eram vendidas principalmente para o mercado de São Paulo, para serem usadas como adorno em chapéus, vestidos e sapatos. Em sua dissertação de mestrado pela UFPR, o pesquisador Walfrido de Oliveira Júnior relata que a empresa “produzia fitas com técnicas únicas”. 

🏠 Além disso, a indústria foi pioneira no sistema home office. “[A fábrica] manteve por dez anos (1935/1945) aproximadamente 20% de suas tecelãs trabalhando nas próprias residências”, escreve o autor.

Em seu auge, a Fábrica de Fitas Venske chegou a empregar 130 pessoas e produzir 800 mil metros de fita por mês. Em 1938, mudou-se para sua sede definitiva, na rua Ubaldino do Amaral, expandindo sua atuação para os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

👨‍🏭 Nas décadas seguintes, a empresa começou a passar por dificuldades para encontrar mão de obra especializada, especialmente para fazer a manutenção dos teares. Em 1980, a empresa sucumbiu e encerrou as atividades. 

Curiosidades

  • Durante a 1ª Guerra Mundial, com medo de uma represália contra imigrantes alemães, a empresa mudou de nome para “Moraes e Cia”. O novo nome, inspirado em uma sociedade que depois se desfez, durou de 1919 a 1924. 

  • Atualmente, os pavilhões da antiga fábrica são conhecidos como A Fábrika, ocupados por escolas de profissões e idiomas, como o Instituto Goethe, e estabelecimentos públicos e privados. A história do local foi tema de uma reportagem em vídeo da TV Sinal, que você assiste aqui.

Louças e literatura 📚

O nosso leitor Terence Keller nos chamou a atenção para uma incrível coincidência da edição passada, em que falamos de Dalton Trevisan e de uma antiga fábrica de louças de Colombo:

“A família de Dalton Trevisan é de Colombo e possuía um fábrica de louças [😲] Inclusive, quando adolescente, Dalton sofreu um acidente (se não me engano uma peça caiu em sua cabeça) e ele ficou acamado por um longo período — foi nesta ocasião que intensificou suas leituras e se encaminhou para a literatura.”

Ou seja, a produção de cerâmicas da região metropolitana, quem diria, pode colocar na conta mais um legado (ainda que indireto) para a cidade: a obra de Dalton Trevisan

Relembre algumas delas aqui, neste especial do finado Caderno G, da Gazeta do Povo.

O Expresso da História: porcelanas colombenses 🍽

Pra virar um pouco o disco (desenterramos essa!), hoje publicamos a quarta edição d’O Expresso da História, escrito pelo jornalista e parceiro Diego Antonelli, que rememora por aqui a trajetória de algumas das principais marcas de Curitiba.

Desta vez, ele fala de uma “capital da louça” mais antiga que Campo Largo, aqui na região metropolitana: a cidade de Colombo, que se notabilizou pela Fábrica de Louças Colombo. Fala lá, Diego!

📜 No final do século 19, por volta de 1880, o imigrante italiano Francisco Busato abriu uma produção significativa de louças que conquistou o país. Sustentada principalmente por mão de obra estrangeira, e com incentivos fiscais para importação de maquinário, a Fábrica de Louças Colombo foi premiada e reconhecida nacionalmente pela qualidade de seus produtos.

A indústria produzia pratos, bules, xícaras, floreiras, vasos e peças especiais sob encomenda. Cogita-se que esta tenha sido a primeira produção em escala industrial de louças no país, segundo o Museu Paranaense.

Um exemplo da louça fabricada em Colombo, no final do século 19. Crédito: Museu Paranaense

🇮🇹 Busato era imigrante da região de Vêneto, na Itália, e se instalou na antiga colônia Alfredo Chaves — que virou o município de Colombo, em 1890. O italiano, que já atuava no ramo em seu país natal, encontrou na cidade uma espécie de argila branca, matéria-prima para a confecção das louças, e decidiu apostar na produção em território brasileiro.

  • No início, o empreendimento apostou na contratação de artesãos italianos especializados em cerâmica e nas técnicas decorativas aplicadas às peças. No entanto, a produção artesanal, com peças pintadas à mão, foi perdendo espaço para meios de produção mais industriais, como decalques ou impressão das imagens.

🔥 Ao longo dos anos, a fábrica ganhou novos sócios e mudou de nome para “Fábrica de Louças São Zacarias”. Em 1908, ela produzia quase 10 mil peças por dia. Mas, em 1925, um incêndio destruiu as instalações e colocou um ponto final na empresa. Naquela época, as indústrias funcionavam em galpões de madeira, e as fornalhas para a fabricação de cerâmica operavam em temperaturas extremamente altas — um convite para grandes incêndios, infelizmente. 

Apesar do fim trágico, a atual produção de cerâmicas do estado deve muito ao pioneirismo de Busato, que plantou a semente da produção de ‘louças finas’ em solo paranaense. 


Para saber mais:

  • Uma imagem singular de trabalhadoras mulheres em ação, no galpão de louças da Fábrica Colombo (Museu Paranaense)
  • Esta dissertação de mestrado sobre a fábrica traz algumas imagens incríveis de peças produzidas pela indústria colombense — como um sapato feminino de louça (isso mesmo!) e um leque (isso mesmo, novamente!), ricamente decorados à mão. O garimpo foi feito pela historiadora Martha Becker Morales.

O Expresso na História: um macarrão curitibano

Na terceira edição da coluna de reminiscências sobre as principais indústrias de Curitiba, o nosso parceiro e jornalista Diego Antonelli fala sobre a Todeschini, a fábrica de macarrão “sublime” que ficava na Av. Sete de Setembro, esquina com a Bento Viana, ali no Batel. Conta mais, Diego:

Crédito: Fundação Cultural de Curitiba/Curitiba Antiga

🛳 Aos 26 anos de idade, o italiano Giuseppe Todeschini decidiu atravessar o Atlântico com destino ao Brasil. Natural da província de Verona, ele chegou ao país em 1877, onde construiu uma grande indústria alimentícia que marcou a vida de gerações de brasileiros.

Quando tudo começou: em 1880, depois de anos trabalhando na construção de casas e juntando recursos, Giuseppe comprou um lote na atual Avenida Sete de Setembro. Foi ali que o italiano começou a botar seu sonho na prática: montou a primeira indústria de macarrão do sul do Brasil. Segundo o pesquisador Lúcio Borges, as primeiras máquinas usadas para fabricar o macarrão foram projetadas e construídas pelo próprio Giuseppe. 

🍝 A empresa surgiu com o nome “Fábrica di Paste Alimenticie”. Mas era modesta: tinha apenas seis funcionários, e a produção era feita na casa de Giuseppe. Havia resistência de parte da população contra alimentos industrializados ou pré-preparados. O comum era as pessoas produzirem suas próprias comidas.

O que o empreendedor italiano fez? Apostou na simpatia. Giuseppe chegava a ensinar a maneira de cozinhar a massa e até como enrolá-la no garfo. Não raro, ele próprio comia a macarronada acompanhado de algum freguês. 

🏭 A fábrica em si, em plena Avenida Sete de Setembro, surgiu em 1906, com a construção de um chalé de dois andares, de tijolos. A indústria passou a se chamar “José Todeschini & Filhos” — Giuseppe teve oito filhos e três filhas, que tocaram a empresa após a morte do pai, em agosto de 1922. A produção de macarrão se consolidou, ganhou o Brasil e avançou para o ramo de balas e depois, biscoitos, com atuação nacional.

Crédito: Levy Leiloeiro

Mudanças: Na década de 1970, a indústria saiu das instalações originais e migrou para o bairro Pinheirinho. A empresa continuou com a família até começar a enfrentar dificuldades financeiras, de gestão e mais concorrência, a partir dos anos 2000. Em 2006, a saída encontrada para não fechar as portas foi uma parceria com a Imcopa, processadora de óleo e farelo de soja com sede em Araucária. Mas, em 2013, a crise foi irreversível e a centenária empresa fechou as portas

Curiosidades:

  • O terreno da antiga fábrica da Todeschini, na Sete de Setembro, abriga hoje um condomínio residencial — mas, nos anos 1990, foi sede do Shopping Todeschini. Quem aí se lembra?
  • Em 2017, a marca Todeschini voltou às gôndolas de supermercado: a indústria paulista Selmi, fabricante dos produtos Galo e Renata, licenciou a marca curitibana e começou a produzir massas e biscoitos com a embalagem Todeschini.