Um perfil dos venezuelanos e haitianos em Curitiba 📒

Edição: Estelita Hass Carazzai | Dados e visualização: Brenda Niewierowski e Gustavo Panacioni

Na semana passada, trouxemos um levantamento inédito sobre os bairros de Curitiba que concentram imigrantes venezuelanos e haitianos – um mapeamento da mais recente onda migratória da cidade e dos seus impactos na cidade.

Hoje, vamos um pouquinho mais a fundo para saber o perfil desses imigrantes, com base (mais uma vez) em dados do Censo Escolar, colhidos via Base dos Dados. As informações são de 2020, dados mais recentes disponíveis.

🔎 A primeira coisa que dá para notar é que estudantes venezuelanos e haitianos, que formam as maiores comunidades estrangeiras entre os alunos de Curitiba, têm perfis bastante distintos.

Enquanto venezuelanos se concentram em creches e no ensino fundamental, haitianos têm uma maior concentração também na educação profissional e EJA, como mostra este gráfico.

🇻🇪 A grande maioria (cerca de 80%) dos alunos da Venezuela, por exemplo, estuda em creches ou no Ensino Fundamental. É um reflexo da imigração de famílias inteiras, muitas com crianças pequenas ou em idade escolar, que nasceram em seu país de origem. A idade média dos 1.115 estudantes venezuelanos em Curitiba é de 10 anos.

  • Algumas creches de Curitiba chegam a ter quase 10% de alunos venezuelanos. É o caso dos CMEIs (Centros Municipais de Educação Infantil) da Vila Fanny e da Dona Francisca Wilsek, no bairro Augusta, onde 9% dos estudantes são do país vizinho. 


🇭🇹 A situação é diferente para os 778 estudantes do Haiti, cuja idade média é bem maior: 16 anos. Os haitianos, em sua maioria, chegam ao Brasil mais velhos, sozinhos e sem filhos. Muitos ainda precisam aprender o idioma, cursar o ensino básico e investir em uma qualificação profissional – não por acaso, quase 25% dos haitianos matriculados em Curitiba estão em turmas de educação profissional ou EJA (Educação de Jovens e Adultos).

  • As maiores concentrações de alunos haitianos estão na Escola Municipal Mansur Guérios, na CIC, e no Colégio Estadual Manoel Ribas, no Prado Velho, com 5,4% e 3,9% de alunos do país caribenho. 
  • Na Educação Profissional, a quantidade de alunos haitianos matriculados em Curitiba é cinco vezes maior que a de venezuelanos.


🏫 Em comum, as duas comunidades dependem massivamente da rede pública de ensino: apenas 3,2% dos estudantes haitianos e 4,6% dos venezuelanos estão matriculados em instituições particulares.

Em uma conversa com O Expresso, a secretária de Educação de Curitiba, Maria Sílvia Bacila, disse que o currículo das escolas públicas da cidade valoriza diferentes saberes e culturas – e que isso ajuda a integrar as crianças à comunidade.

  • Nas escolas municipais, segundo ela, o processo de adaptação das crianças é bastante fluido, já que elas brincam e acolhem de maneira mais rápida que os adultos.


“As crianças têm curiosidade em entender como o colega vivia em seu país de origem, quais eram seus hábitos, como é sua língua. Elas aprendem no dia a dia, de um jeito mais lúdico, e isso contribui com a adaptação”, disse Bacila.

Mas nem sempre é tão fluido: Viviane Mueller Xavier, coordenadora do Instituto Nova Vida, que atua com imigrantes haitianos no bairro Boqueirão, diz que as crianças da comunidade haitiana têm muita dificuldade de compreensão e socialização por causa da diferença linguística, já que elas falam francês e crioulo – línguas bem diferentes do nosso português. Segundo ela, as crianças têm que se virar e, eventualmente, aprender sozinhas. 

“As portas estão abertas, mas ainda há muito caminho pela frente”, resume ela.

Para relembrar: veja aqui quais são os bairros que mais concentram imigrantes venezuelanos e haitianos em Curitiba – e o que podemos fazer para recebê-los bem 🙂

O Expresso da História: A antiga Farmácia Stellfeld

Você sabia que houve uma época em que Curitiba não tinha uma única farmácia? É essa história que conta o nosso Diego Antonelli na coluna de hoje, que trata do edifício onde ficava a primeira farmácia da cidade, a Farmácia Stellfeld.

Ao se emancipar de São Paulo em 1853, o Paraná não tinha uma farmácia sequer. Um dos primeiros médicos residentes na cidade, José Cândido da Silva Muricy – o famoso “dr. Muricy”, como lembra a rua no centro de Curitiba –, queixava-se da falta de farmacêuticos e, numa determinada época, fornecia ele mesmo medicamentos à população pobre da capital, conforme conta a obra “Histórias do Paraná”, de Jorge Narozniak.

💊 A situação só mudaria a partir de 1857, época em que uma epidemia de cólera assolava Curitiba. Em abril daquele ano, o farmacêutico alemão Augusto Stellfeld se instalou na capital paranaense.

  • Inicialmente, a sua “botica” funcionava ao lado da Santa Casa de Misericórdia. Pouco tempo depois, mudou-se para o Largo da Matriz (atual Praça Tiradentes).


O edifício: A construção da sede da farmácia, que existe até os dias de hoje e é marcada pelo relógio solar em sua fachada, começou em 1863. Nessa época, a Praça Tiradentes “tinha 43 casas, 2 em obras e 1 sobrado, que era o prédio da Cadeia”, segundo o Boletim Informativo “Tiradentes, a praça verde da igreja”, da Casa Romário Martins.

Um dos primeiros sótãos habitáveis de Curitiba e o icônico relógio solar na fachada marcam o edifício da Farmácia Stellfeld, na Praça Tiradentes. Crédito: Acervo Histórico Farmacêutico

👀 “O trabalho, realizado de forma até então nunca vista na cidade, chamou a atenção de transeuntes e curiosos”, conta o Boletim. O imóvel se destacou em meio aos casarios mais baixos da região naquela época, e trazia novidades arquitetônicas como um sótão habitável – recurso trazido pelos imigrantes europeus. 

O edifício da Farmácia Stellfeld foi concluído em 1866. O projeto, do engenheiro Gottlieb Wieland, já previa o histórico relógio solar na fachada.

  • No prédio também ficava a residência de Augusto Stellfeld. A legislação da época não permitia espaços vazios entre as construções. Mesmo assim, foi criado um corredor lateral que dava acesso ao fundo do terreno – camuflado por um portão anexo à fachada.

A Farmácia Stellfeld: com a morte de Augusto, em 1894, os negócios da farmácia passaram a ser administrados por seus filhos Camillo e Edgar. “A partir de 1930, a parte do prédio que ainda servia como moradia para a família foi sublocada para consultórios médicos”, segundo o boletim da Casa Romário Martins.

  • A farmácia permaneceu nas mãos da família até 1970, quando foi vendida para a rede farmacêutica Morifarma, também de Curitiba. 

Saiba mais: nesta revista do Conselho Regional de Farmácia do Paraná, é possível saber um pouquinho mais da história da Farmácia Stellfeld e de suas filiais pela cidade.

Curtas ⚡

Dança da chuva: depois de os reservatórios que abastecem Curitiba e região alcançarem 70% da capacidade total, o mês de novembro teve o volume de chuvas mais baixo dos últimos três anos. O nível se mantém próximo aos 70%, mas o rodízio de água continua. (Gazeta do Povo)

Literatura presente: a Biblioteca Pública do Paraná e a Livraria Arte & Letra começam a retomar os eventos presenciais, promovendo a literatura paranaense, com lançamento de livros, rodas de poesias e shows. Ambos acontecem no próximo sábado (11/12), a partir das 10h. (BPP e Plural)

Preservação: Curitiba ganhou mais 32 hectares de reserva florestal, em uma área antes destinada à abertura de sete ruas. Serão 20 novas RPPNMs (Reservas Particulares do Patrimônio Natural Municipal), na divisa com o Parque Tingui, na região Norte da cidade. (Plural)

Mosaico

Alguém consegue adivinhar onde fica este pátio, em pleno centro de Curitiba? O clique é de Gustavo Panacioni.

Pra terminar: em bom curitibanês

“Os políticos vêm e vão, mas os jornalistas permanecem.” 

Terminamos esta edição com uma homenagem a Roseli Abrão, uma das primeiras jornalistas políticas do Paraná, que morreu há duas semanas, vítima de um tumor cerebral. 

Natural de Guarapuava, Roseli veio a Curitiba com os pais para estudar. Foi aqui que ela se graduou em Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná, e trabalhou em jornais como O Estado do Paraná, Correio de Notícias, Diário Popular e Folha de Londrina.

A frase aí em cima foi citada pelo também jornalista Rogerio Galindo, que neste texto relembra a calma e a discrição da colega, presença permanente na Assembleia Legislativa. (Plural)

Roseli também era uma leitora voraz e sedenta por conhecimento: lia em média três livros por semana, era apaixonada por cinema e música, e foi na Biblioteca Pública do Paraná que conheceu seu marido. (Gazeta do Povo)

Ela partiu, mas seu trabalho e a inspiração permanecem 🙏

Uma ótima semana pra você!