Pra encerrar: em bom curitibanês

“Nunca fiz nada sozinha. Ninguém faz. Sem parceria, não se anda na pesquisa.”

Encerramos a edição de hoje com a pesquisadora Ida Chapaval Pimentel, que há três décadas estuda o controle biológico de vermes e é atualmente professora na UFPR (Universidade Federal do Paraná).

Moradora de Curitiba, ela foi listada como uma das cientistas mais influentes do mundo pelo AD Scientific Index. “Para mim, mais importante que estar no ranking é tornar o alimento mais saudável e beneficiar a sociedade de alguma forma”, disse ela ao Expresso.

Chapaval contribui com a pesquisa sobre o uso de fungos como biopesticidas em plantações de morango, iniciada pela professora Maria Aparecida Cassilha Zawadneak, em 2013. O trabalho do grupo permite, junto com outros métodos, que a produção do morango na região metropolitana de Curitiba se estenda ao longo de todo o ano – e sem agrotóxicos. (Gazeta do Povo)

Uma ótima semana!

Curtas ⚡

Boletim de situação: Curitiba registra, já há algumas semanas, taxas bastante esperançosas que indicam um arrefecimento da circulação do coronavírus por aqui,  como mostra o nosso Monitor COVID-19 Curitiba. Nesta segunda (25), chegamos a 2.076 casos ativos – o mesmo patamar de junho do ano passado, antes de entrarmos na primeira onda mais severa da pandemia.

Chove, chuva: ainda que tenhamos tido uma trégua nesta segunda, a chuva que caiu nos últimos dias em Curitiba é mais que bem-vinda. O nível dos reservatórios da região já se aproxima dos 60%, patamar que pode servir para reduzir o rodízio de água na cidade (iríamos para 48h com água e 24h sem). Vamos acompanhar. (Tribuna do Paraná)

Uma ilha sob ameaça 🏝️

A Ilha do Mel, uma maravilha da natureza a poucas horas de Curitiba, é um dos nossos lugares preferidos no Paraná. Mas dados recentes do Climate Central, organização que estuda o impacto das mudanças climáticas pelo mundo, mostram a ilha completamente desfigurada pela subida do mar – e já em 2030.

A notícia saiu no excelente Livre.jor, que testou dois cenários: o otimista e o pessimista, para os anos de 2030 e 2120. Mesmo no cenário mais otimista, em apenas dez anos, diversas áreas da Ilha do Mel já estariam debaixo d’água, como:

  • A gruta das Encantadas e todo o comércio próximo ao píer;
  • Praias como a Praia de Fora, a Praia da Fortaleza e a Praia do Belo seriam severamente comprometidas;
  • O Farol de Nova Brasília, um dos principais símbolos do local, seria totalmente desconectado da ilha;
  • A porção maior da Ilha do Mel, que inclui a reserva natural ao norte, iria se separar definitivamente do resto do território.

A reportagem do Livre.jor explica direitinho os critérios do modelo desenvolvido pela Climate Central, que, em sua versão otimista, exclui do alagamento regiões baixas protegidas por áreas de terra mais elevadas – e também considera a aplicação imediata, em nível mundial, de medidas de combate ao aquecimento global.

Dá ainda para explorar os impactos em outros trechos do litoral paranaense, como Antonina, Paranaguá (spoiler: os portos seriam afetados) e Guaratuba.

Vale o alerta e a reflexão. 💭

Uma cesta nada básica 🧺

Que o preço da carne anda pela hora da morte, a gente já sabe. Mas uma pesquisa recente do curso de Economia da PUCPR, que analisou a inflação dos alimentos no Brasil, descobriu que o custo da cesta básica disparou 20% em Curitiba, nos últimos 12 meses.

  • Foi acima do aumento em nível nacional (de 16%), e bem mais que a inflação acumulada no período (13% em Curitiba e 10% no Brasil, segundo o IPCA).


O que mais subiu, segundo a pesquisa:

  1. Em primeiro lugar, a carne bovina – o preço do contrafilé aumentou 51%, empatado com o açúcar cristal;
  2. Depois, aparecem a batata-inglesa e o tomate, com 34%;
  3. Margarina, café moído e óleo de soja vêm na sequência, com variações entre 28% e 27%.

Em amarelo, a variação média da cesta básica em Curitiba; em azul, o detalhe por item, segundo a pesquisa da PUCPR. Veja o gráfico completo aqui.

Nesta entrevista à Folha de S.Paulo, o professor Jackson Bittencourt, da PUCPR, explica que a disparada dos preços dos alimentos acontece em todo o Brasil por diversos fatores, como o dólar alto, a valorização das commodities no mercado internacional e os efeitos da estiagem e de geadas.

“Estamos olhando para aquilo que é considerado o mínimo para as pessoas colocarem na mesa. O problema é que esse mínimo vem subindo muito”, disse Bittencourt.

Mas o impacto mais dramático do aumento dos preços é o empobrecimento das famílias brasileiras, muitas das quais têm passado fome e recorrido a doações pelo país. (BBC Brasil)

E em Curitiba? Por aqui, Bittencourt destaca que os aumentos foram especialmente salgados em função da crise hídrica, mais prolongada que em outras regiões. 

  • A Defesa Civil estimou, em abril, que o número de famílias que passam fome em Curitiba aumentou em até 300%. (CBN Curitiba)
  • Recentemente, a prefeitura propôs (e os vereadores aprovaram, por unanimidade) o aumento de verbas para o Armazém da Família, que vende produtos básicos a preços reduzidos para famílias cadastradas. (Câmara Municipal de Curitiba)
  • Esta reportagem mostra iniciativas de organizações em Curitiba que distribuem alimentos nas comunidades mais vulneráveis da cidade. Uma delas, a Central Única das Favelas do Paraná, parou todas as ações que fazia para se dedicar exclusivamente a combater a fome. 😔 (Plural)

👀 Quer saber mais? Acesse o boletim completo da PUCPR aqui.

O Expresso da História: a casa de Alfredo Andersen 🏠

Hoje é dia de mais um mergulho nos imóveis históricos de Curitiba, com o nosso colunista Diego Antonelli – que fala de uma casa centenária que já foi moradia para um dos principais artistas paranaenses. Conta mais, Diego:

Construído no final do século 19, o espaço onde hoje funciona o Museu Alfredo Andersen já serviu como moradia e ateliê do famoso artista, considerado o pai da pintura paranaense

🏠  Localizado na Rua Mateus Leme, nº 336, do bairro São Francisco, em Curitiba, o imóvel foi idealizado e construído por imigrantes alemães. Inicialmente, a casa, que é composta por dois pavimentos, foi sede de uma sociedade recreativa alemã.

  • Posteriormente, em 1915, se transformou na residência, ateliê e escola de artes de Alfredo Andersen. Em 1940, cinco anos após a morte do artista, foi fundada a Sociedade de Amigos Alfredo Andersen, que objetivava criar naquele imóvel uma espécie de museu.

🎨  A ideia vingou. A casa foi desapropriada e restaurada parcialmente em 1959, quando foi transformada em Casa de Alfredo Andersen – Escola e Museu de Arte. O Patrimônio Histórico e Artístico do Paraná tombou o imóvel em 1971, e em 1979, a instituição passou a ser denominada Museu Alfredo Andersen. Entre 1988 e 1989, o local foi totalmente restaurado. Em 2018, o espaço passou por um novo processo de revitalização.

Quem foi Alfredo Andersen? O artista nasceu na Noruega em 1860. Após um longo período de viagens pela Europa e América, em 1892 desembarcou no Paraná, fixando residência em Paranaguá. Aos 42 anos, já casado com Anna de Oliveira, mudou-se para Curitiba, onde abriu o seu ateliê.

  • Andersen foi o responsável pelo primeiro projeto para o brasão do Estado do Paraná. Em 1915, mudou seu ateliê-escola para a edificação em que hoje está o Museu, local onde também residiu com a sua família. Andersen morreu em Curitiba no dia 9 de agosto de 1935.


A quem quiser conhecer: o Museu Casa Alfredo Andersen, que exibe boa parte da obra de Andersen e de seus discípulos, fica aberto (seguindo todos os protocolos de prevenção à COVID) de terça a sexta-feira, das 10h às 17h, e nos sábados, domingos e feriados, das 10h às 16h. A entrada é gratuita.

Curtas ⚡

Prioridades: é rapidinha e bem fácil de fazer a consulta pública organizada pela Câmara de Curitiba para definir as prioridades do orçamento de 2022. As sugestões serão usadas pelos vereadores para ajustar a lei proposta pelo Executivo. Dá para votar até domingo (24). (Câmara Municipal de Curitiba)

Falando em consulta: as mulheres da cidade também estão sendo convidadas a participar da construção das novas políticas públicas de direitos das mulheres em Curitiba. Essa consulta vai até o dia 27. (CBN Curitiba)

Indicações culturais: o nosso colunista Diego Antonelli lançou na semana passada um livro que conta a história dos 130 anos de imigração ucraniana no Brasil. Curitiba concentra boa parte desta colônia até os dias de hoje. E, no próximo domingo (24), é dia de Às vezes, aos domingos, dessa vez com duas poetas locais: Joema Carvalho e Priscila Prado. (Plural e Tulipas Negras)

Pra encerrar: em bom curitibanês

“Essa carne aí, nem onça come.”

Foi essa frase de Duia, antigo goleiro do clube curitibano do Britânia, que teria cunhado o nome de uma iguaria local: a carne de onça, segundo nos conta esta reportagem. (Plural)

A história aconteceu entre as décadas de 1930 e 1940, segundo a pesquisa de Sergio Medeiros, do site Curitiba Honesta. Foi num bar chamado “Buraco do Tatu”, na esquina da Rua XV com a Marechal Floriano Peixoto, que servia a carne crua com cebola, temperada com cebolinha, azeite de oliva, sal e pimenta (só de pensar já dá água na boca).

O bar era de propriedade de um dos donos do Britânia, Christian Schmidt. Era lá que os jogadores do time confraternizavam após as vitórias – sempre com direito a uma bacia da tal carne que nem onça come.

A frase espirituosa de Duia acabou se espalhando e cravando o apelido dessa delícia tipicamente curitibana, que pode ser saboreada em uma série de bares e restaurantes pela cidade. (MCities)

Uma ótima semana a você!

Os órfãos da pandemia 🧒

Com os casos de COVID-19 caindo semana a semana, como mostra o nosso Monitor COVID-19 Curitiba, a gente começa a respirar um pouco mais aliviado por aqui. Mas é claro que a pandemia não acabou, os cuidados como uso de máscara e distanciamento continuam mandatórios – e, mais que isso, muita gente ainda sofre as consequências dessa doença.

Na semana que passou, um dado especialmente triste veio à tona: pelo menos 235 crianças em Curitiba perderam o pai ou a mãe para a COVID-19. (Câmara de Curitiba)

  • Esses números foram compilados pela secretaria da Educação, e consideram somente crianças vinculadas à rede pública municipal – ou seja, uma pequena parcela da realidade. 

🤔  A gente foi perguntar onde vivem as crianças que perderam o cuidador ou responsável na pandemia, e conseguimos os números do mapa abaixo (considerando apenas as crianças acompanhadas pela secretaria municipal da Educação):

O maior número de crianças que perderam pai, mãe ou o cuidador responsável está na regional do Pinheirinho. Para ver o mapa completo, clique aqui.

Dá para ver que boa parte dos órfãos vive na regional do Pinheirinho – que também registra a maior taxa de mortalidade e de incidência de casos na cidade. Ou seja, um local altamente impactado pela pandemia. A regional congrega bairros como Capão Raso, Novo Mundo e Fanny, além do próprio Pinheirinho.

Em segundo lugar, aparece o Cajuru, com 17% dos casos. A regional teve uma das menores incidências de casos de coronavírus na cidade, mas uma taxa de letalidade bem acima da média – o que pode indicar maior vulnerabilidade da população local.

Depois, vem a CIC, a região que concentra mais moradores em Curitiba, em especial a população jovem. O percentual de crianças e adolescentes nos bairros da regional está em torno de 30% da população – no Centro, por exemplo, esse número é de 10%.

⚠️  Esse, é claro, é um problema global, mas mais severo no Brasil e em outros países da América Latina: o Brasil é o segundo país com maior número de órfãos, atrás apenas do México, segundo uma pesquisa recente. (BBC Brasil)

  • A maior parte das crianças, de acordo com o estudo, perde o pai. “Mundialmente, o risco de perder o pai foi de duas a cinco vezes mais alto do que o de perder a mãe”, disse à BBC a pesquisadora Susan Hillis.
  • Segundo uma estimativa recente, feita com base em dados de registros de nascimento e óbito, a COVID deixou 12 mil órfãos no Brasil. (G1)


E o que fazer? Curitiba tem acompanhado e oferecido assistência às crianças e suas famílias, incluindo acolhimento psicológico, orientações sobre guarda e pensão. No Paraná, o governo também instituiu um fundo financeiro para bancar bolsa-auxílio às famílias que precisem e ações de saúde mental, entre outros programas. (AEN)

  • E para nós, fica aquela lição do provérbio africano: “É preciso uma aldeia para criar uma criança“. Se você conhece alguma que tenha perdido o pai, a mãe ou o cuidador, acolha; ofereça ajuda, dê carinho e suporte. Uma pequena ação pode ajudar a atravessar a tormenta.