Lá se vão quase quatro meses em que o bairro Caximba, no extremo sul de Curitiba, permanece com a maior incidência de casos de COVID-19 da capital. Desde o início de abril de 2021, a proporção da população já infectada com o vírus desponta diante dos outros bairros da capital.
Desde abril, o Caximba (no extremo sul, em preto) foi o único bairro de Curitiba em que a pandemia não arrefeceu. Confira o mapa completo no nosso Monitor COVID-19 Curitiba.
A situação já foi diferente. No início de março, os dois bairros com maior incidência de contaminados eram Alto da XV e Batel, com quase 1.000 casos por 10 mil habitantes. (O Expresso)
Recentemente, o bairro ainda perdeu dois líderes locais para o coronavírus: o casal Maria Vilma e Ubaldo Paolini, membros ativos da associação de moradores do Caximba e que morreram em maio, com 1h30 de diferença. (Gazeta do Povo)
E o que está acontecendo no Caximba?
O Caximba foi por muito tempo conhecido por sediar o antigo aterro sanitário da cidade, desativado em 2010. Historicamente habitado por imigrantes italianos e poloneses, com forte presença de olarias, mais recentemente o bairro se tornou sede de ocupações irregulares, como as comunidades 29 de Outubro e Abraão. (Folha de Londrina e Plural)
Em 2018, o apresentador Luciano Huck visitou o local e o comparou ao Haiti, pela infraestrutura precária nas áreas de ocupação: como é uma área de várzea, há casas sobre palafitas e entulho de construção espalhado pelo bairro (para firmar o terreno e permitir a construção de casas). (Tribuna do Paraná)
Em resumo: a verdade é que as recomendações para a prevenção da COVID-19 estão muito distantes da realidade vivida no Caximba – onde a taxa de desemprego é o dobro da de Curitiba, a renda per capita é de apenas 30% da média curitibana e 90% da população não tem acesso a água potável. (ONG Teto)
“Fique em casa: que casa? Um cômodo com oito pessoas? Lave as mãos: como, se a comunidade não tem acesso à água? Limpe as superfícies: como se limpa um chão de terra batida? Como não trabalhar, se sua única fonte de renda é informal?”, disse em entrevista Ana Bivar, gestora da ONG Teto, que atua na região. (BandNews FM)
Outro agravante é que quase 60% da população do bairro tem menos de 30 anos, segundo o levantamento da Teto. Ou seja: a vacinação (parada na casa dos 36 anos) ainda vai demorar para impactar positivamente a pandemia no Caximba.