Quanto mais frio, mais pedidos de ajuda aos vulneráveis ❄️

O frio de bater queixo dos últimos dias fez a gente aqui n’O Expresso pensar muito sobre quem está em situação de rua – em Curitiba, são pelo menos 2.700 famílias vivendo nessa condição, segundo dados de 2020 do Ministério da Cidadania.

Será que, quanto mais frio, mais gente liga para a Central 156 pedindo o acolhimento de quem está em situação de rua? Seria o frio um gatilho para a solidariedade do curitibano?

🔎 Como sempre, fomos aos números: cruzamos o banco de dados do 156, buscando especificamente por pedidos de abordagem social de rua, com os registros históricos de temperatura mínima em Curitiba, armazenados pelo INMET.

  • O resultado: quanto menor a temperatura, maior a média de chamados. Se quando a mínima supera os 20°C, a média de ligações para que a prefeitura aborde e acolha pessoas em situação de rua é de 81, em dias de mínima abaixo dos 10°C, esse número mais que dobra e vai para 190.
  • O período analisado foi de fevereiro de 2021 a fevereiro de 2022, quando foram registradas mais de 36 mil solicitações de abordagens para acolhimento. É uma média de quase 100 pedidos por dia, com um pico de 491 pedidos em 28 de julho do ano passado – quando a mínima foi de 7,4°C.

Número de chamados para acolhimento da população de rua praticamente triplica quando a temperatura cai abaixo dos 8°C. Veja o gráfico completo aqui.

A coordenadora da Central de Encaminhamento Social da FAS (Fundação de Ação Social), Grace Kelly Ferreira, diz que as chamadas da população ao 156 são muito importantes para o trabalho de acolhimento, já que, muitas vezes, na busca ativa, as equipes da FAS não enxergam pessoas que podem estar dormindo entre arbustos, atrás de muros…

Nessas noites de muito frio, abaixo dos 8°C, a FAS amplia o número de equipes na rua e deixa uma em cada regional, além de sete equipes na região central.

São três os desfechos mais comuns para cada solicitação de abordagem feita ao 156:

  • Acolhimento e encaminhamento aos abrigos;
  • A pessoa em situação de rua não é encontrada pela equipe da FAS a partir das informações fornecidas pelo cidadão solicitante;
  • A pessoa nega o acolhimento e opta por seguir na rua. 


➡️ Neste domingo (22), por exemplo, um homem conhecido como Barba foi encontrado morto na Praça Tiradentes. Naquela noite, a mínima foi de 6,2°C, por isso investiga-se se a morte foi causada por hipotermia. Segundo a FAS, Barba foi abordado na noite de sábado, mas recusou o abrigo e recebeu cobertores para enfrentar a noite fria na rua. (Tribuna do Paraná)

Segundo a coordenadora da FAS, o principal motivo para as pessoas negarem acolhimento é a dependência de álcool e drogas, substâncias de consumo proibido dentro dos abrigos.

  • Esta reportagem da piauí, do inverno passado, fala também de pessoas que não querem se separar de seus companheiros ou animais (embora haja abrigos com vagas para cachorros), ou do medo de que pertences pessoais sejam descartados e perdidos. (piauí)

Outras formas de ajudar: a Semeando Amor aceita voluntários para a distribuição de lanches e sopa à população de rua de Curitiba. Tem também o Rango de Rua, a UTFPR Solidária e a Médicos de Rua Curitiba.

Pra terminar: em bom curitibanês

“Eu cozinho para mudar o tempo, para mudar as pessoas e para mudar a natureza. Mas o mais importante, eu cozinho por mim mesma.”

Encerramos a edição desta terça com a chef Manu Buffara, estrela da gastronomia local. Natural de Maringá e radicada em Curitiba, ela contou nesta entrevista o que significa cozinhar para ela.

“A gente tenta mudar o mundo através da cozinha. Rodei o mundo e voltei a Curitiba. É a cidade onde eu cresci, onde tenho raízes”, disse Manu, que recentemente abriu um restaurante em Nova York.

Quando perguntada sobre um ingrediente local de destaque na sua culinária, a chef citou uma unanimidade curitibana (pelo menos, entre a equipe deste Expresso): o pinhão – que, aliás, cai muito bem neste frio 😋

Até semana que vem! 

O Expresso da História: a casa do “Burro Brabo” 🐴

Hoje é dia de mais uma viagem no tempo pelas mãos do nosso colunista Diego Antonelli, que fala de uma casa icônica do Bacacheri – a casa do Burro Brabo, que fica ali na avenida Erasto Gaertner, 2035. Conta mais, Diego:

Construída por volta de 1860, a casa do Burro Brabo é uma das últimas casas com características rurais que resiste ao crescimento urbano de Curitiba. Acredita-se que ela foi edificada quando o bairro Bacacheri era mais conhecido como Colônia Argelina, que abrigava imigrantes franceses.

🧳 Situada num antigo trecho da Estrada da Graciosa (atual avenida Erasto Gaertner), ela foi sede de armazém e pousada para viajantes. Há indícios que apontam que o imperador Dom Pedro II, durante suas andanças pela região, chegou a pernoitar no local.

  • O local também abrigou um prostíbulo, conhecido na época como a “Casa das Francesas”.

🏠 Construído em um único pavimento, o imóvel possui uma varanda nas fachadas frontal e lateral, com piso de tijolos. A cobertura do imóvel é outra característica marcante pelas suas dimensões e também por sua linha de caimento, que se projeta sobre as varandas.

E de onde vem esse nome? Reza a lenda que o nome surgiu porque, em frente ao imóvel, ficavam os burros que transportavam viajantes tropeiros, de Curitiba ao litoral, que seguiam pela antiga Estrada da Graciosa. Os animais que paravam aos montes na frente do imóvel, na época uma pousada e armazém, eram tão ariscos que ninguém conseguia chegar perto. Aí, a casa ganhou o apelido.

Tombamento polêmico: o imóvel foi tombado pelo Patrimônio Histórico Estadual do Paraná em 1992, mas proprietários do local não queriam restaurá-lo. Uma ação civil pública movida pelo Ministério Público do Paraná garantiu a sobrevivência da casa: após um longo processo judicial que durou 11 anos, a Promotoria conseguiu a recuperação completa do casarão em 2010.

Curtas ⚡

É de Curitiba: a música no topo das paradas do Spotify no Brasil, “Acorda, Pedrinho”, é de Curitiba. A cena narrada na letra e dançada até por Anitta é inspirada no clássico Bar Dionísio, na João Gualberto. A banda Jovem Dionísio contou mais aqui. (G1)

Maré baixa: depois de um ano recorde em investimentos, startups de Curitiba não passaram ilesas à onda de cortes pelo país. Nesta segunda (23), a curitibana Olist fez demissões, atribuídas ao atual “cenário macroeconômico, de juros altos e inflação”. “Quem não fizer ajustes e não recondicionar o próprio negócio corre o risco de ser irresponsável”, disse o fundador ao Estadão. (O Expresso, Infomoney e Estadão)

Beatriz e o poeta: para quem quiser tietar pessoalmente, nesta quinta (26) tem lançamento do novo livro de Cristóvão Tezza na Livraria da Vila, a partir das 19h.

Curtas ⚡

Prepare a japona: vai fazer um frio de lascar nos próximos dias, começando nesta terça (17). A mínima prevista é de gélidos 2℃ para esta manhã, com geada e tudo! Não esqueça a japona. (Folha de S.Paulo)


Bote a máscara: os casos de COVID aumentaram significativamente nos últimos dias em Curitiba – em uma semana, como mostra o nosso Monitor COVID-19 Curitiba, os casos ativos mais que dobraram. A gravidade, felizmente, é baixa, mas convém não facilitar. (Gazeta do Povo)

Pra terminar: em bom curitibanês

“Esse universo curitibano está entranhado no meu DNA, de artista e de cidadão.”

Encerramos a edição de hoje com o ator Guilherme Weber, aniversariante do mês e curitibano raiz, um dos grandes nomes do teatro da cidade e que acaba de completar 50 anos.

Nesta entrevista recente, Weber fala que “muito da sua originalidade e da sua assinatura como artista vem do fato de ser curitibano e paranaense”. (RPC)

Entre as referências locais da literatura, das artes e do teatro, ele cita Dalton Trevisan, Paulo Leminski (“os grandes pilares da minha paixão por literatura”), Jamil Snege, Manoel Carlos Karam, Wilson Martins, Raul Cruz, Fátima Ortiz, Marcelo Marchioro, Edson Bueno, Nena Inoue, Lala Schneider e Denise Stoklos – uau! Quanta gente boa junto.

Aproveite os links aí em cima para navegar neste belo universo curitibano.

Uma ótima semana pra você 🙂

As folhas caem

Aos poucos o outono vem dando espaço para o inverno. O clique é de Gustavo Panacioni, na Rua Prudente de Moraes, em Curitiba.

Curitiba lidera inflação entre as capitais 💰

Saíram na semana passada os índices de inflação de abril, medidos pelo IBGE – e, mais uma vez, com recordes históricos de alta nos preços para o mês. (Folha de S.Paulo)

  • Embora a inflação em Curitiba, segundo o IPCA, tenha ficado abaixo da média nacional no mês (0,85% na capital paranaense ante 1,06% no país), a cidade é a capital que registrou a maior inflação acumulada nos últimos 12 meses. Ou seja, foi aqui o lugar onde os preços mais subiram no último ano. 😢

Curitiba teve o maior aumento de preços do Brasil no último ano, segundo o IBGE. Veja o gráfico completo aqui.

Conversamos com o economista Rafael Montanari Durlo, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), para entender o que levou Curitiba ao topo desse ranking. Ele apontou duas causas principais:

  1. Preços represados: entre dezembro de 2018 e fevereiro de 2020, o índice de inflação de Curitiba manteve-se abaixo da média nacional, o que, segundo Rafael, indica um represamento dos preços neste período. Essa tendência virou e, tirando o atraso, Curitiba viu seus preços subirem de forma mais acelerada que a média nacional.
  2. Preço do ônibus: o preço dos transportes é a variável que mais tem puxado a inflação em Curitiba acima da média nacional. Enquanto no país este item registrou aumento de 19,7% nos últimos 12 meses, em Curitiba foi de 24,5%. Olhando mais detalhadamente, a maior diferença está no subitem ônibus urbano, que na média nacional ficou 3,05% mais caro, enquanto em Curitiba a variação foi de 22,22% – que representa o aumento de R$ 4,50 para R$ 5,50 aplicado pela prefeitura no começo de março. (O Expresso)

🧺 O peso da cesta básica: O economista do Dieese chamou a atenção para outra informação importante. Em Curitiba, o valor da cesta básica, atualmente, corresponde a 66% do salário mínimo líquido. Há 12 meses, correspondia a 52%. Ou seja, um aumento de 26% do peso da cesta básica no salário mínimo.

  • Entre os alimentos, desconsiderando os produtos que sofrem variações sazonais, o café nosso de todo dia foi o alimento que mais subiu em Curitiba: 105% em 12 meses. ☕

As portas da Galeria Tijucas 🚪

Curitibas de muitas épocas se misturam nos 21 andares comerciais da Galeria Tijucas, construída na década de 1950 na Avenida Luiz Xavier – em plena Boca Maldita.

Tem café hipster, alfaiates (muitos deles), cover do Roberto Carlos, bancas de advocacia, cartório e mais um tanto de negócios que fazem do prédio inaugurado em 1958 um dos lugares mais interessantes do centro da cidade. (Tribuna do Paraná, Banda B e Morar nas Alturas)

Todas aquelas portas são um paraíso para fuxiqueiros, como nós, que ficam pensando o tanto de história que tem por ali. A jornalista Vivian Faria flanou pelos corredores do Tijucas e mandou pra nós – e a gente amou! – algumas fotos dessas portas que guardam uma parte da história de Curitiba. 📸

Mais três curiosidades sobre o Tijucas:

  1. O responsável pela construção do prédio foi o empresário Ney Leprevost, avô do deputado federal. Aliás, num dos anúncios de venda do edifício, alguns dos atributos destacados são a central telefônica própria, a estrutura para aquecedor e as “prestações menores que o aluguel”, sem entrada (MPPR e Morar nas Alturas);
  2. São 586 unidades, entre apartamentos, salas comerciais e lojas;
  3. Por muitos anos, o dentista José Carlos Micelli tocava seu trompete todo fim de tarde de sexta-feira, da janela de seu consultório – uma melodia que ecoava pelo calçadão afora. Que bonito devia ser! (Blog do Zé Beto)


🤿 Pra ir mais fundo: Neste link, há uma ficha do edifício e de sua construção, e aqui, algumas das histórias do Tijucas. (Morar nas Alturas e Prédios de Curitiba)