A Curitiba que poderia ter sido 💭

Comemoramos nesta terça-feira os 329 anos da Curitiba que conhecemos, da cidade que existe. Mas vamos aproveitar a data para falar um pouco aqui n’O Expresso sobre as Curitibas que poderiam ser. A cidade pensada, planejada, projetada, mas que nunca saiu do papel – ou que ainda pode sair.

Nesses anos todos, foram muitos os croquis (alguns bem futuristas) que propuseram novos rumos à cidade. Vamos a eles.

🚇 Nos trilhos: A última vez que um bonde elétrico andou em Curitiba foi em 1952 (e sabia que a garagem deles existe até hoje?). De lá pra cá, alguns projetos de mobilidade sobre trilhos foram cogitados pelos técnicos da prefeitura e pelos gestores da cidade. Essa história é bem contada e debatida neste artigo de pesquisadores da PUC-PR – que tem o sugestivo nome de “Aprendendo com os fracassos”. (Câmara de Curitiba e PUC-PR)

  • O famigerado metrô começou a ser estudado ainda em 1969! Nesses mais de 50 anos de relação platônica, curitibanos já viram eventos de lançamento, logomarcas, projetos de estação e até canteiro de obras  – mas, nunca, de fato, o metrô. (Gazeta do Povo, G1 PR e Prefeitura de Curitiba)
  • O bonde moderno, projetado em 1992, faria a linha Norte-Sul, do Santa Cândida ao Pinheirinho. A estação central seria subterrânea, perto dos Correios e do prédio histórico da UFPR. (PUC-PR)
  • Já o monorail, de 1999, previa a implantação de um monotrilho elevado ao longo de 20 km da BR-116. O projeto não saiu do papel porque o custo da tarifa seria o dobro da praticada no sistema de ônibus, mas acabou dando diretrizes importantes para outra proposta, a da Linha Verde, essa, sim, implementada – ou melhor, em vias de implementação. (PUC-PR)


A estação do prometido Metrô Curitibano e, ao lado, o monotrilho sobre a BR-116, cujos princípios acabaram dando origem à Linha Verde. Veja mais croquis aqui.

🚌 Sobre pneus: Um dos motivos para os projetos sobre trilho não avançarem é o sucesso do BRT, ônibus que circula em vias exclusivas e que virou um símbolo de Curitiba. Tentando dar cara nova aos biarticulados, a Volvo chegou a apresentar, em 2004, um projeto futurista de ônibus para a cidade. Na proposta, a direção sairia do lado esquerdo do ônibus e passaria para o centro.

O biarticulado futurista (do livro ‘A história do transporte coletivo de Curitiba’).


🚶Um novo calçadão: em 2011, a prefeitura de Curitiba anunciou uma intervenção na rua Cândido de Abreu, no Centro Cívico. O texto oficial prometia que seria “a primeira rua da cidade com WiFi (internet gratuita)”, com calçadão de 18 metros de largura e canaleta exclusiva para o transporte público.

💧 Rios desenterrados: não são apenas os arquitetos da prefeitura que sonham e desenham novas Curitibas. Um trabalho de 2017 envolveu arquitetos do escritório Solo e estudantes de arquitetura no projeto “Descobrindo Rios”. A ideia era envolver os rios Belém e Ivo na paisagem do centro da cidade, “resgatando esses importantes corpos hídricos do esquecimento subterrâneo”.

  • O resultado são projetos arrojados, que sonham alto, mas que apontam (por que, não?) para outra Curitiba possível


Uma Curitiba possível, pensando num rio Belém ‘descanalizado’, na Mariano Torres. como um leito navegável.

O que está na mesa agora? O processo de reinvenção da cidade é contínuo. Há, neste momento, projetos arrojados para a cidade tramitando nos gabinetes da prefeitura, como a Pirâmide Solar da Caximba, uma estrutura piramidal para gerar energia solar, e o novo Inter 2, que promete veículos elétricos e novas estações de ônibus. Agora é torcer para que eles saiam do papel. (Tribuna do Paraná e Prefeitura de Curitiba)

🗣️E você? Qual a Curitiba que você imagina para o futuro? Compartilhe suas ideias com a gente respondendo a esse e-mail, ou no oi@oexpresso.curitiba.br 

Em casa

Diretamente do Bosque do Papa, janelas para a tradição polonesa – uma das tantas culturas formadoras de Curitiba. O clique é de Gustavo Panacioni

Pra terminar: em bom curitibanês

“O Rio [de Janeiro] não é a minha praia. Minha paisagem é essa: a araucária, a geada, o nevoeiro. Aqui, parece que as estrelas estão mais baixas, a lua está mais próxima e tudo é mais intenso. O frio é mais frio e o calor é mais calor. Faz muito sentido pra mim.”

Terminamos esta edição de aniversário com as inspiradas palavras do ator Luis Melo, que nasceu em Curitiba, ganhou fama pelo Brasil e recentemente inaugurou seu Campo das Artes, um espaço incrível dedicado ao teatro e à experimentação artística na serra de São Luís do Purunã, a 40 km da cidade. (UOL)

O retorno à terra natal, veja que curioso, tem a ver com o que também o fez sair da cidade, em 1985: “[É] o mesmo motivo que me fez sair de Curitiba: procurar um espaço onde se pudesse desenvolver um trabalho de pesquisa teatral”, explicou nesta entrevista a Felippe Aníbal.

A mostra em cartaz no Campo das Artes já está com reservas esgotadas, mas em breve será possível assistir às peças pelo YouTube.

Uma ótima semana pra você 🙂

329 anos em 207 edições: Curitiba n’O Expresso 🗞️

Desde 2018, este O Expresso debate semanalmente os rumos e desafios da nossa cidade. No aniversário de Curitiba, trazemos a você uma curadoria dos melhores conteúdos e reportagens desses últimos quatro anos, em que refletimos para onde a cidade está crescendo e qual será seu futuro.

Curitiba cresceu: na última década, Curitiba viu sua população crescer em 11%, principalmente na região sul da cidade. A verticalização é mais acentuada que no restante do país: 1 a cada 4 curitibanos mora em apartamentos. Apesar do crescimento de construções em regiões periféricas, o centro de Curitiba ainda é a região mais adensada.

Curitiba mudou: a cidade também tem passado por mudanças significativas, como investimentos em novas calçadas, mais quilômetros de ciclovias e redução de velocidade nas ruas. Algumas obras foram finalizadas, e outras continuam (como a da Linha Verde, que se propaga há mais de uma década).

Curitiba ainda precisa mudar: por fim, apesar dos avanços, ainda vivemos em um cenário de contrastes, que mostram o desequilíbrio entre regiões e moradores da nossa cidade. Em Curitiba, mulheres recebem menos que os homens; alguns lugares têm bem menos acessos e oportunidades; a periferia sofre com menos condições de saúde e de acesso a itens básicos como comida

Que bom que temos esta comunidade para pensarmos juntos no futuro de Curitiba ❤️Obrigada por nos acompanhar nesta jornada!

Curta

Sem máscara: um pouco antes do fechamento desta edição, chegou a notícia de que o uso de máscara não será mais obrigatório em locais fechados a partir desta terça (29) em Curitiba. A decisão foi “um presente de aniversário” para a cidade, segundo as palavras do prefeito, depois de uma reunião extraordinária do Comitê de Ética Médica. Os números da pandemia – que ainda não acabou, ressaltou a própria secretaria da Saúde – continuam disponíveis e atualizados no nosso Monitor COVID-19 Curitiba.

Pra terminar: em bom curitibanês

“As pessoas deveriam se permitir se apaixonar, assistir a uma boa história, porque o teatro é vida, o teatro salva e move. A arte te permite ter outro entendimento da vida.”

Terminamos esta edição com a artista Regina Vogue, uma catarinense que criou raízes em Curitiba e virou referência em teatro na cidade. A atriz disse nesta entrevista que escolheu Curitiba, mas que a cidade também a escolheu. (Tribuna do Paraná)

Regina, que tem mais de 50 anos de carreira, dá nome a um teatro no centro da cidade –  um dos palcos do Festival de Curitiba, que começa na terça que vem e vai até o dia 10 de abril. (G1 Paraná)

“O teatro é maravilhoso; permite que a gente viva outras vidas”, contou ela. E assinamos embaixo!

Uma ótima semana pra você 🙂

Teatro de Rua

Na lateral de uma das entradas do Teatro Guaíra, no Centro, uma galeria de arte a céu aberto. O clique é de Gustavo Panacioni.

Uma topografia urbana de Curitiba 🌆

Quem já subiu na Torre Panorâmica ou espiou o centro de Curitiba a partir das alturas conseguiu perceber que tem muito prédio em Curitiba – mas que eles se concentram em determinados bairros ou corredores da cidade.

A gente já mostrou aqui n’O Expresso que a maioria dos curitibanos mora em casas. Ainda assim, os dados mais recentes mostram que 1 em cada 4 moradores de Curitiba vive em um apartamento, ou 26% dos moradores – um índice de verticalização bem maior que a média brasileira, de apenas 10%, e acima da mediana das capitais, de 18%. (IBGE)

  • Mais que isso, o número de curitibanos que vivem em prédios está aumentando: de acordo com o IBGE, entre 2016 e 2019, Curitiba passou de 23% para 26% das pessoas morando em apartamentos. Ou seja, quase 60 mil pessoas trocaram casas por apartamentos na cidade.

🗺️ Pra variar, a gente decidiu recorrer aos dados para colocar a verticalização no mapa, criando uma espécie de “topografia dos prédios de Curitiba”. O resultado, obtido por meio de dados sobre os condomínios da cidade (fornecidos pelo Ippuc via Lei de Acesso à Informação), é este do mapa abaixo:
A região central – e os eixos de transporte público – concentram os condomínios verticais de Curitiba. Confira os detalhes no mapa.

Dá para ver claramente que a região central e os bairros por onde passam as canaletas do expresso, como Água Verde, Bigorrilho, Portão e Juvevê, concentram os condomínios verticais de Curitiba.

🚌 Não é por acaso: os eixos de transporte orientam também o crescimento de Curitiba. “A prefeitura e o Ippuc buscam fazer uma maior liberação de potencial construtivo nas regiões que têm maior infraestrutura”, nos explicou Marcelo Gonçalves, analista de tendências e sócio-diretor da Brain Inteligência Estratégica

🔎 Outras curiosidades:

  • Em média, os edifícios de Curitiba têm 4 pavimentos – mas, em bairros como o Cabral, Batel e Bigorrilho, esse número chega a 13! 
  • O Centro e o Bigorrilho concentram os prédios mais altos da cidade: no Centro, há 21 prédios com mais de 30 andares, e no Bigorrilho, são 15.
  • O Mossunguê, apelidado pelo setor imobiliário de Ecoville, se notabilizou pelos espigões de luxo próximos à via do expresso. Na prática, porém, o bairro tem menos prédios por km2 e uma média de 9 pavimentos por edifício.
  • Em cinco anos, aumentou em 14% o número de condomínios verticais na cidade: mais de mil condomínios foram criados.


E os lançamentos? É também ao redor das canaletas do expresso que se concentram os lançamentos imobiliários de Curitiba nos últimos cinco anos, segundo os dados do Ippuc: Portão, Água Verde e Centro estão no “top 5” de bairros com os maiores aumentos absolutos de novos condomínios residenciais entre 2016 e 2021, junto com Cajuru (o campeão) e Xaxim, seguidos de pertinho pela CIC. 

💡 Para Gonçalves, da Brain, o processo de verticalização que aconteceu no eixo Água Verde-Portão tende a se repetir em bairros como o Cajuru e o Xaxim: “Essas regiões crescem especialmente porque têm uma grande população. Com o tempo, vai ficando mais raro encontrar casas na região, e as pessoas vão para um apartamento. Foi isso que aconteceu no vértice Água Verde-Portão, e que também começa a acontecer no Cajuru.”

  • Segundo ele, existem dois principais motivos para que as pessoas migrem de casas para apartamentos: os preços e a segurança.

Para encerrar, vale uma pequena problematização: é comum ver lançamentos grandiosos em bairros com alta renda per capita, como o Batel e o Cabral – mas tem sido cada vez mais raro o lançamento de moradias populares, não só em Curitiba como em todo o país. E aí pesam um monte de questões, como o recente aumento dos juros, a taxa de desemprego e a alta dos custos da construção. (Imobi Report e Folha de S.Paulo)

  • “O imobiliário residencial está indo, mas com um fator preocupante: ancorado nas classes média e média alta”, alertou o presidente da CBIC, José Carlos Martins, ainda em 2019. (Imobi Report)

🙋 Fica a sugestão para Curitiba: que tal incentivar a construção de mais moradias nos eixos de transporte para além do centro, como no próprio Xaxim, Cajuru, Boqueirão, Pinheirinho e Santa Cândida?

  • Este artigo de 2018 já defende isso, e critica a concentração de moradias populares em Curitiba em regiões sem eixos de transporte público. Vale a leitura. (Observatório das Metrópoles)

Pressa para tirar a máscara 😷

Desde a semana passada, com a queda nos números da pandemia na cidade – como mostra o nosso Monitor COVID-19 Curitiba –, o uso de máscaras em Curitiba foi flexibilizado. Agora, não é mais obrigatório o uso da proteção em espaços públicos abertos, tampouco o controle de uso de máscaras em estabelecimentos comerciais e o fornecimento do acessório por empresários a funcionários. (Tribuna do Paraná)

👀 É claro que a gente fica feliz com a queda dos novos casos e mortes, e com os bons índices de imunização na capital. Mas vale lembrar que os vereadores de Curitiba precisaram de apenas nove dias para aprovar o projeto que flexibiliza o uso de máscaras contra a COVID-19 na cidade. O trâmite aceleradíssimo envolveu a realização de duas sessões extraordinárias – algo atípico, reservado aos assuntos mais urgentes da cidade. Foram 33 votos favoráveis e apenas três contrários. (O Expresso e Câmara de Curitiba)

  • A pressa contrasta com a lentidão com que a obrigatoriedade das máscaras foi regulamentada em Curitiba. A lei aprovada pelos vereadores em 9 de dezembro de 2020 só foi sancionada pelo prefeito quase um mês depois. Ou seja, durante todo o período de festas de fim de ano, a proposta de punir quem desrespeitasse medidas contra a COVID-19 na cidade dormiu na gaveta. (Prefeitura de Curitiba)

E no Brasil… A flexibilização do uso de máscaras em Curitiba segue uma tendência nacional. Em todo o país a obrigatoriedade está caindo, sob um discurso quase consensual de que está tudo bem, independentemente da matiz política. (BBC Brasil)

Vale o alerta: cientistas afirmam que a desobrigação da proteção é prematura, e que ficar sem máscaras em ambientes fechados ainda não é recomendado. Continue se cuidando! 😷 (Folha de S.Paulo e G1)