O Expresso da História: o prédio histórico que virou estacionamento

Hoje é dia de mais um mergulho nos edifícios icônicos de Curitiba, com o nosso querido colunista Diego Antonelli. A coluna desta edição fala de um prédio histórico convertido em estacionamento. Conta mais, Diego:

Em julho deste ano, a cidade de Curitiba foi contemplada com mais um estacionamento no centro da cidade. Mas, dessa vez, o empreendimento ocupa o terreno que já abrigou um prédio histórico: a Sociedade Operário. O local, um ícone da história negra na cidade, agora sedia o chamado “SmartPark São Francisco”, localizado na Rua Jaime Reis, esquina com Ermelino de Leão.

  • Segundo a prefeitura, trata-se de um “estacionamento inteligente”, com 94 vagas que ocupam 3,2 mil metros quadrados e “terão ativação por meio do EstaR Eletrônico”.

🤔 Verdade que nos últimos anos, restava apenas a fachada do prédio, construída em 1949 e tomada por pichações. Merecia, contudo, um processo de revitalização e de um processo de tombamento histórico. Não foi o que aconteceu. 

A história: a Sociedade Protetora dos Operários foi fundada no século 19, mais precisamente em 1883, por Benedito Marques dos Santos, um habilidoso mestre de obras – que, segundo alguns estudos, fora escravizado no passado.

  • A primeira sede da “Operário” ficava na casa do ex-escravizado João Batista Gomes de Sá, localizada na Rua do Mato Grosso (atual Comendador Araújo). Pouco tempo depois, a sociedade adquiriu o terreno no Alto São Francisco, em frente à Praça João Cândido, onde hoje há o estacionamento.

A Sociedade funcionava como uma agremiação beneficente. Com o tempo, passou a contar com uma biblioteca e uma escola noturna para instrução dos seus sócios. Também realizava festas de comemoração do 1º de Maio, eventos sobre o sistema capitalista e mobilizações de adesão a greves. No seu auge, chegou a contar com 500 sócios. 

💃🏿 A partir da década de 1950, os bailes e festas realizados na Sociedade ganharam destaque. O baile carnavalesco “Gala Gay” – também conhecido como Baile dos Enxutos – começou a ser realizado em meados dos anos 1950. No início dos anos 2000, a Sociedade teve fim e o local passou a ser somente uma casa de shows. Em setembro de 2000, entretanto, a estrutura do prédio foi comprometida por um incêndio. 

O impasse: o decreto de desapropriação do antigo edifício, publicado em 22/06/2020, informa que a antiga sede da Sociedade foi desapropriada para “implantação de Pavilhão de Cultura e Inovação como Infraestrutura de Valorização e Animação do Setor Histórico”. Não há menção a estacionamento. 

👀 A assessoria de imprensa da prefeitura informou que o Pavilhão ainda será construído e os “estudos de formatação do anteprojeto estão em curso no Ippuc”.

  • Segundo o poder público, o estacionamento é, na verdade, temporário, enquanto forem finalizados os estudos e encaminhado o projeto do Pavilhão de Cultura. “A utilização daquele espaço público se faz necessária, neste momento, como forma de que a área não fique ociosa e sujeita a ocupações irregulares”, disse a prefeitura.

Curtas ⚡

Nova barragem: para contornar futuras estiagens, a Sanepar estuda implantar uma nova reserva de abastecimento d’água na grande Curitiba, desta vez, na região de Fazenda Rio Grande – uma das cidades que mais sofre com o atual rodízio. (Gazeta do Povo)

Rock’n’roll: um projeto super bacana da cidade, o Girls Rock Camp, que incentiva meninas a partir de 13 anos a compor e gravar uma música autoral, retomou as atividades de forma virtual. A programação começa dia 19, e as inscrições estão abertas. (Plural)

No bolso: lembra que já falamos aqui da galopante inflação em Curitiba? Pois é: nesta semana que passou, descobrimos que a cidade agora é a campeã nacional no acumulado dos últimos 12 meses, com 12% de taxa. (Época Negócios)

Pra encerrar: em bom curitibanês

“Os cientistas brasileiros se acostumaram a tirar leite de pedra.”

O cientista Aldo Zarbin, professor da UFPR (Universidade Federal do Paraná), tem um ‘superpoder’. Ele, que vive em Curitiba, foi tema desta reportagem do UOL sobre cientistas brasileiros que estão mudando a história com pesquisas sobre novos tipos de materiais.

O seu ‘superpoder’, como explica o texto, são baterias sustentáveis. Zarbin lidera um grupo de estudos na UFPR que trabalha numa alternativa às baterias de lítio, material escasso e caro. O substituto são baterias de íon-sódio, feitas com base em componentes tão banais quanto… sódio e água. (TVM)

Essas baterias, além de agredirem menos o meio ambiente, são capazes de gerar e armazenar energia com melhor performance e de forma mais econômica.

Zarbin, nascido no interior de São Paulo, lamenta os cortes de recursos da ciência brasileira, mas diz que o cientista nascido aqui “é extremamente criativo e capaz”. Suas descobertas foram publicadas em diversas revistas científicas internacionais, mas dependem de investimentos para saírem do papel.

Você pode acompanhar o trabalho de Zarbin em sua conta no Twitter.

Uma boa semana pra você!