Pra encerrar: em bom curitibanês

“A nossa cozinha é continental, muito ampla e diversa. Mostrar essas diferenças e as nuances dos sabores brasileiros é o meu maior objetivo.”

Terminamos a edição de hoje com a chef Manu Buffara, estrela da gastronomia local que está levando alguns dos ingredientes da cozinha brasileira para… Nova York.

A chef vai abrir um restaurante na cidade norte-americana em 2022. O empreendimento promete “um vislumbre dos ingredientes e técnicas nacionais”, com direito até a bottarga, uma espécie de caviar de tainha feito no litoral do Paraná e Santa Catarina. (Folha de S.Paulo e UOL)

“Devagar vamos introduzindo nossos temperos por lá”, disse a chef maringaense, radicada em Curitiba – e, em breve, com as asas no mundo.

Uma ótima semana a você!

Camuflagem

Quando a natureza e o mobiliário urbano se confundem. O clique é de Gustavo Panacioni, no bairro das Mercês.

Curtas ⚡

Os melhores parmegiana: sete meses e 55 pratos depois, é possível conferir esta lista dos 10 melhores parmegiana da cidade de Curitiba. A iniciativa é de uma servidora pública e cozinheira nas horas vagas, que estabeleceu seis critérios para a avaliação. (Plural)

O rodízio continua: a estiagem que atinge Curitiba, e também o Paraná, parece não ter um fim tão cedo. Já são 19 outros municípios em situação crítica de abastecimento e a projeção para uma recuperação adequada dos reservatórios pede o dobro de chuva diária até o fim do ano aqui na capital. (Gazeta do Povo, Plural)

Trégua à vista: os números da pandemia em Curitiba estão longe de serem inofensivos, mas é possível ter uma ponta de esperança. Com o avanço da vacinação, Curitiba tem o menor número de novos casos diários desde outubro de 2020. Nesta semana, a cidade deve retomar a vacinação de adolescentes e a repescagem da vacina passa a ser permanente. Aliás, não esqueça de conferir se você tem direito ao adiantamento da segunda dose lá no app Saúde Já. (O Expresso, BandNews Curitiba, Bem Paraná)

Mais tempo em casa e no home office 🏡

Com quase 98% da população curitibana vacinada contra o coronavírus e os casos ativos da doença em seu menor nível desde o ano passado, como mostra o nosso Monitor COVID-19 Curitiba, parece (assim torcemos!) que o fim da pandemia se avizinha.

E como será a Curitiba do pós-pandemia? Quais mudanças perenes ficarão no cotidiano e no comportamento dos moradores da cidade?

A gente tentou responder a essas perguntas dando uma olhadinha no Google Mobility Report, um relatório global que compara o deslocamento das pessoas pré e pós-pandemia.

  • Com um pouquinho de código, achamos os dados específicos de Curitiba e comparamos com a média brasileira. 

A permanência em casa (em laranja) e em mercados e farmácias (em amarelo) permanece em alta em Curitiba. Veja o gráfico completo aqui.

Eis algumas das nossas conclusões:

👩‍💻 O curitibano permaneceu em home office mais do que a média brasileira. O deslocamento e permanência nos escritórios de Curitiba continuam levemente abaixo dos níveis pré-pandemia – ao contrário do cenário brasileiro, em que os locais de trabalho voltaram ao “velho normal” em maio, e já registram um movimento até 15% maior do que antes.

A gente fica pensando no impacto que isso pode ter em áreas comerciais da cidade, com grandes edifícios de escritório, como o centro. Como essas regiões irão se reinventar?

🏡  A permanência em casa também está acima do normal em Curitiba, e levemente acima da média brasileira. Os curitibanos têm ficado 10% mais tempo em casa do que antes (um cálculo feito com base na quantidade de horas que as pessoas passam em casa).

  • Não é coincidência que o mercado imobiliário da cidade esteja bombando, com recorde nas vendas de imóveis residenciais. (Gazeta do Povo)
  • Na tentativa de revigorar as quatro paredes, aliás, muita gente tem recorrido às plantas para aguentar o confinamento. Até na Casa Cor deste ano, aparecem as “varandas valorizadas” e os “tons verdes”.

Tem mais coisa interessante no relatório do Google:

  • Uma procura crescente (e acima dos níveis pré-pandemia) por parques e praças;
  • Uma retomada da movimentação nos terminais de ônibus (apesar da frota reduzida);
  • Uma procura ainda baixa por restaurantes, cafés, museus, shoppings, bibliotecas e cinemas. Será que o lazer do curitibano mudou de endereço?

A gente promete abordar mais a fundo esses tópicos nas próximas edições 🙂  👀

Pra encerrar: em bom curitibanês

“É isso que eu quero: que o mundo opte pelo amor em meio ao caos.”

Encerramos esta edição com o cineasta Aly Muritiba, nascido na Bahia e radicado em Curitiba, que recentemente lançou o filme “Deserto Particular”.

O longa foi ovacionado no Festival de Veneza, onde recebeu o prêmio do público, e já é apontado como candidato para concorrer ao Oscar. (Veja)

Nesta entrevista, o diretor fala de sua trajetória da Bahia ao Paraná (oposta à do protagonista do filme) e de sua experiência como agente penitenciário, quando descobriu “a importância de ouvir as pessoas que nunca tiveram alguém que as escutasse”.

A quem estiver curioso, dá para ver um trailer do longa aqui. Muritiba também é conhecido pela série Caso Evandro, disponível na Globoplay, e pelo filme “Ferrugem”, no Telecine.

Uma ótima semana!

Oásis

Largo Bittencourt, no centro, pertinho do Passeio Público. O clique é de Gustavo Panacioni.

Curtas ⚡️

Diálogos curitibanos: começa nesta quinta (23) o Diálogos Curitibanos, um evento online e gratuito com gente interessada em tornar nossa cidade um lugar melhor – e do qual, não por acaso, somos parceiros. A editora deste Expresso participa de uma mesa redonda sobre Inovação para a Cidadania, a partir das 19h. Dá para se inscrever e acompanhar os próximos debates, que se estendem até novembro, aqui.

Causa e efeito? Curitiba já vacinou, contra a COVID-19, quase 97% da população adulta com pelo menos uma dose. Também alcançou, neste início de semana, uma média de 300 novos casos diários – é o menor índice desde o começo de novembro do ano passado, como mostra o nosso Monitor COVID-19 Curitiba.

Arte para se escutar 🎨

Se você já tomou a vacina e está se animando para voltar aos espaços culturais da cidade, temos uma boa dica: a Uiara Bartira, referência das artes gráficas e da gravura em Curitiba, lançou uma exposição que celebra seus 40 anos de carreira, no MuMA (Museu Municipal de Arte).

“A vida passou e eu nem senti”, disse ela nesta entrevista à CBN Curitiba.

Com gravuras em metal, litogravuras, xilogravuras e fotogravuras, a mostra tem o sugestivo nome de “O Silêncio e a Eroticidade da Gravura”. A artista explica: “A gravura a gente não vê com os olhos; a gente escuta. Você precisa do silêncio para que ela possa falar. Não é a gente que fala pra ela: é a arte que fala pra gente”.

🎙️ Aliás, se você quiser ouvir mais a Uiara, sua história e como ela se mescla com a trajetória de Curitiba como polo nacional da arte gráfica, nós d’O Expresso também já a entrevistamos neste podcast especial, lá em 2019.

O MuMA fica no Portão, em frente ao terminal de ônibus do bairro, na avenida República Argentina. A mostra fica aberta até o dia 10 de novembro – e, no próximo dia 7 de outubro, haverá uma mesa redonda sobre a exposição.

Chaminés na ativa 🏭

Um dos impactos mais perceptíveis da pandemia ao longo deste último ano foi na qualidade do ar. Com menos gente circulando, menos carros e menos atividade industrial, a poluição diminuiu significativamente em várias cidades pelo mundo – pelo menos, nos períodos de lockdown. (O Globo)

Mas como isso ficou em Curitiba? E em especial, na indústria?

  • O pessoal da Fiquem Sabendo, uma agência de dados especializada no acesso a informações públicas, descobriu uma base de dados públicos do Ibama que mostra as emissões de poluentes atmosféricos pelas indústrias – mais especificamente, estabelecimentos que têm uma chaminé e que são inscritos no Cadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente Poluidoras.

Nós analisamos os dados de Curitiba e dos oito municípios limítrofes à cidade, ao longo dos últimos sete anos. O que descobrimos?

☁️  Em 2020, a indústria da Grande Curitiba emitiu cerca de metade dos poluentes em comparação ao ano anterior – consequência, é claro, da redução da atividade econômica no país.

  • Destaque para o município de São José dos Pinhais, que concentra boa parte da indústria automobilística da região (as montadoras tiveram seu pior ano desde 2003). Lá, as emissões caíram 70%. (G1)

As indústrias de Araucária, São José dos Pinhais, Curitiba e, mais recentemente, Fazenda Rio Grande se destacam na emissão de poluentes. Veja o mapa completo aqui.

Araucária, sede da gigantesca refinaria da Petrobrás e de um numeroso polo industrial, abriga as empresas mais poluidoras da Grande Curitiba, concentrando 80% dos poluentes da região. Ainda assim, em 2020, a cidade teve uma redução de 43% na quantidade total de partículas. A Petrobrás, por exemplo, emitiu 44% menos poluentes.

📈 Por outro lado, chama a atenção a ascensão de Fazenda Rio Grande como polo industrial na Grande Curitiba. Em termos de quantidade de partículas, a cidade ao sul da capital ainda passa longe de Araucária e de Curitiba. Mas, em 2020, ela foi o único município que registrou aumento da poluição industrial: +93%.

Notas importantes:

  • A quantidade de poluentes é informada pelas próprias empresas, que realizam medições ou estimativas, e não é checada pelo Ibama. Portanto, pode haver erros;
  • Tendo isso em mente, optamos por excluir da base dados grosseiramente elevados, ou muito discrepantes do histórico de emissões de uma determinada empresa.

Vale lembrar que a atividade industrial emite apenas cerca de 6% dos gases de efeito estufa em Curitiba, segundo o inventário oficial feito em 2016 (e que considera apenas a poluição nos limites do município, sem região metropolitana).

  • O grande vilão do efeito estufa na cidade, segundo este documento, é o transporte terrestre – vamos voltar a este tema nas próximas edições.

Para encerrar com uma nota de soluções: o Observatório do Clima fez uma lista de ações que contribuem para diminuir as emissões de poluentes. Entre elas, estão medidas simples, como a promoção da mobilidade ativa e a priorização da compra de produtos da agricultura familiar local. Vale a pena olhar.

O Expresso da História: o prédio histórico que virou estacionamento

Hoje é dia de mais um mergulho nos edifícios icônicos de Curitiba, com o nosso querido colunista Diego Antonelli. A coluna desta edição fala de um prédio histórico convertido em estacionamento. Conta mais, Diego:

Em julho deste ano, a cidade de Curitiba foi contemplada com mais um estacionamento no centro da cidade. Mas, dessa vez, o empreendimento ocupa o terreno que já abrigou um prédio histórico: a Sociedade Operário. O local, um ícone da história negra na cidade, agora sedia o chamado “SmartPark São Francisco”, localizado na Rua Jaime Reis, esquina com Ermelino de Leão.

  • Segundo a prefeitura, trata-se de um “estacionamento inteligente”, com 94 vagas que ocupam 3,2 mil metros quadrados e “terão ativação por meio do EstaR Eletrônico”.

🤔 Verdade que nos últimos anos, restava apenas a fachada do prédio, construída em 1949 e tomada por pichações. Merecia, contudo, um processo de revitalização e de um processo de tombamento histórico. Não foi o que aconteceu. 

A história: a Sociedade Protetora dos Operários foi fundada no século 19, mais precisamente em 1883, por Benedito Marques dos Santos, um habilidoso mestre de obras – que, segundo alguns estudos, fora escravizado no passado.

  • A primeira sede da “Operário” ficava na casa do ex-escravizado João Batista Gomes de Sá, localizada na Rua do Mato Grosso (atual Comendador Araújo). Pouco tempo depois, a sociedade adquiriu o terreno no Alto São Francisco, em frente à Praça João Cândido, onde hoje há o estacionamento.

A Sociedade funcionava como uma agremiação beneficente. Com o tempo, passou a contar com uma biblioteca e uma escola noturna para instrução dos seus sócios. Também realizava festas de comemoração do 1º de Maio, eventos sobre o sistema capitalista e mobilizações de adesão a greves. No seu auge, chegou a contar com 500 sócios. 

💃🏿 A partir da década de 1950, os bailes e festas realizados na Sociedade ganharam destaque. O baile carnavalesco “Gala Gay” – também conhecido como Baile dos Enxutos – começou a ser realizado em meados dos anos 1950. No início dos anos 2000, a Sociedade teve fim e o local passou a ser somente uma casa de shows. Em setembro de 2000, entretanto, a estrutura do prédio foi comprometida por um incêndio. 

O impasse: o decreto de desapropriação do antigo edifício, publicado em 22/06/2020, informa que a antiga sede da Sociedade foi desapropriada para “implantação de Pavilhão de Cultura e Inovação como Infraestrutura de Valorização e Animação do Setor Histórico”. Não há menção a estacionamento. 

👀 A assessoria de imprensa da prefeitura informou que o Pavilhão ainda será construído e os “estudos de formatação do anteprojeto estão em curso no Ippuc”.

  • Segundo o poder público, o estacionamento é, na verdade, temporário, enquanto forem finalizados os estudos e encaminhado o projeto do Pavilhão de Cultura. “A utilização daquele espaço público se faz necessária, neste momento, como forma de que a área não fique ociosa e sujeita a ocupações irregulares”, disse a prefeitura.