Catadores, os protagonistas da reciclagem em Curitiba ♻️

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Texto e apuração: João Frey | Edição: Estelita Carazzai

Desde que a Família Folhas voltou (e que aquele refrãozinho do Se-pa-re! não sai da nossa cabeça), ficamos pensando aqui n’O Expresso em retomar um desejo antigo de falar sobre a coleta de recicláveis em Curitiba.

E o que descobrimos é que, se a cidade quer manter vivo esse espírito de orgulho pela reciclagem, deve agradecer e valorizar o trabalho dos catadores informais: atualmente, os catadores coletam cerca de 86% do material reciclável de Curitiba. 😱

Os dados são da prefeitura de Curitiba, que realizou duas grandes pesquisas de campo, uma em 1990 e outra em 2017 – a partir delas, o município fez projeções para os outros anos. 

🛒 No gráfico aí de baixo, dá pra ver bem a curva ascendente da coleta pelos catadores – cujos volumes estão bem acima da coleta formal de recicláveis (aquela do caminhão com o sininho, contratada pela prefeitura).

Em verde, a coleta seletiva feita pelos catadores, e em azul, a oficial do caminhão do sininho. Veja o gráfico completo aqui.

👉 Alguns destaques:

  • Ao longo dos últimos 30 anos, nosso índice de reciclagem cresceu um pouquinho. Em 2020, Curitiba reciclou 22% do seu lixo. Em 1990, essa taxa era de 21%. A título de comparação, em São Paulo, o percentual é de 7%; em Porto Alegre, de 4,5%; e em Belo Horizonte, de 18%. (G1, Zero Hora e BH Verde)
  • A meta da prefeitura é chegar a 30% – o que faria o mercado de recicláveis de Curitiba movimentar R$ 44,2 milhões por ano na cidade com a venda desses materiais, segundo a estimativa oficial. É mais do que a cidade gera com agropecuária, por exemplo (cerca de R$ 13 milhões por ano, segundo os dados mais recentes do IBGE).

O curitibano também passou a produzir mais lixo. Em 1990, cada morador gerava 170 kg de resíduos por ano. Hoje, são quase 310 kg – um aumento de 82%! 

🗑️ Para dar conta de tanto lixo a mais, o mercado informal de catadores aumentou muito sua produtividade: em 1990, a prefeitura estimava que mil catadores saíam diariamente para trabalhar na cidade. Em 2020, esse número foi de 1.435 – um aumento de 43%, mas bem abaixo do salto de 161% na quantidade de recicláveis coletados.

  • A explicação, segundo a prefeitura, está no uso de veículos motorizados, que não eram tão comuns na década de 1990. Cerca de metade da coleta informal de recicláveis de Curitiba é feita com kombis, pampas e outros veículos, segundo mostrou uma pesquisa feita pela prefeitura em 2017.

Para onde vai o lixo reciclável? O material coletado informalmente pelos catadores é vendido diretamente para compradores privados, sem o intermédio da prefeitura.

Já o material coletado pelo caminhão do Lixo que Não é Lixo é destinado aos 40 barracões de triagem contratados pela prefeitura pelo projeto EcoCidadão. Nesse caso, o município paga pela triagem do material e, posteriormente, as cooperativas que administram esses barracões revendem os resíduos também a compradores privados.

O que a prefeitura acha disso: O município não vê problema no aumento do índice de coleta pelos catadores. Pelo contrário. “Nós induzimos a população, empresas, supermercados e comércios a doarem o material para os coletores. Queremos desviar esse material de aterro. Queremos que tenha circularidade, que volte para a cadeia”, contou ao Expresso Edelcio Marques dos Reis, diretor do Departamento de Limpeza Pública da Secretaria do Meio Ambiente de Curitiba.

  • Ou seja, a prefeitura está focada no resultado final, que é impedir materiais recicláveis de chegarem aos aterros sanitários e serem tratados como lixo comum. Quem vai levar esses resíduos das ruas até as cooperativas ou ao mercado privado para serem reciclados e revendidos no mercado, importa menos.

Como a prefeitura pode ajudar os catadores: conversamos também com o Carlos Alencastro Cavalcanti, representante do Paraná na Coordenação Nacional do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis. Ele listou para nós as principais demandas dos catadores para a prefeitura:

  1. Contratos entre o poder público e os catadores com precificação adequada;
  2. Capacitar os catadores para gestão e gerenciamento de resíduos e gestão de seus empreendimentos;
  3. Fortalecer o associativismo e o cooperativismo, por meio de programas de desenvolvimento da economia solidária;
  4. Promover a educação ambiental para a população com a participação de catadores e catadoras, com remuneração prevista em contratos.

E como nós podemos ajudar os catadores? Sim, tem como – e muito. No papo que tivemos com o Edelcio, da prefeitura, ele contou que muitos rejeitos (como lixo de banheiro, bituca de cigarro, materiais adesivos e guardanapos) estão indo para os galpões junto com os recicláveis. Ou seja, estamos separando mal. Em Curitiba, esse índice de rejeitos já chegou a 10%, mas hoje estamos na faixa dos 30%. O que dá para fazer:

  1. Separar os resíduos adequadamente, em pelo menos três partes: recicláveis, orgânicos/úmidos, e rejeitos;
  2. Romper as barreiras de preconceitos;
  3. Visitar os empreendimentos de reciclagem e, se possível, destinar a eles os recicláveis. Veja aqui os endereços de todos os barracões;
  4. Realizar trabalhos voluntários para ajudar os catadores.

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